Outro dia minha queridíssima mãe me entregou um belo texto de Fernando Pessoa para que eu encaminhasse a uma grande amiga de quem ela gosta muito. Resolvi reproduzi-lo aqui como forma de homenagear todas as mães e tias (que também considero mães).
“Uma mulher chamada Anne foi renovar sua carteira de motorista. Pediram-lhe para informar qual era a sua profissão. Ela hesitou em saber bem como classificar. ‘O que eu pergunto é se tem trabalho’, insistiou o funcionário. ‘Claro que tenho trabalho’, exclamou Anne. ‘Sou mãe’. ‘Nós não consideramos mãe um trabalho. Vou colocar dona de casa’, disse o funcionário friamente. Não voltei a lembrar-me desta história até o dia em que me encontrei em situação idêntica. A pessoa que me atendeu era obviamente uma funcionária de carreira, segura, eficiente, dona de um título sonante. ‘Qual é a sua ocupação?’, perguntou. Não sei o que me fez dizer isto; as palavras simplesmente saltaram-me da boca para fora: ‘sou Doutora em Desenvolvimento Infantil e em Relações Humanas’. A funcionária fez uma pausa, a caneta de tinta permanente a apontar para o ar, e olhou-me como quem diz que não ouviu bem. Eu repeti pausadamente, enfatizando as palavras mais significativas. Então reparei, maravilhada, como ela ia escrevendo, com tinta preta no questionário oficial. ‘Posso perguntar’, disse-me ela com interesse, ‘o que faz exatamente?’. Calmamente, sem qualquer traço de agitação na voz, ouvi-me responder, ‘desenvolvo um programa a longo prazo (qualquer mãe faz isso), em laboratório e no campo experimental (normalmente eu teria dito dentro e fora de casa). Sou responsável por uma equipe (minha família), e já recebi quatro projetos (todas meninas). Trabalho em regime de dedicação exclusiva (alguma mulher discorda???), o grau de exigência é em nível de 14 horas por dia (para não dizer 24 horas)’. Houve um crescente tom de respeito na voz da funcionária que acabou de preencher o formulário, se levantou, pessoalmente me abriu a porta. Quando cheguei em casa, com título da minha carreira erguido, fui recebida pela equipe: uma com 13 anos, outra com 7 e outra com 3. Do andar de cima, pude ouvir meu novo experimento (um bebê de seis meses), testando uma nova tonalidade de voz. Senti-me triufante. Maternidade… que carreira gloriosa! Assim, as avós deviam ser chamadas ‘Doutoras-Sênior em Desenvolvimento Infantil e em Relações Humanas’. As bisavós: ‘Doutora-Executiva-Sênior’ e as tias: ‘Doutora-Assistente’. Mande isso às mães, avós, bisavós e tias que conheça. Uma homenagem carinhosa a todas as mulheres, mães, esposas, amigas, companheiras. Doutoras na Arte de fazer a vida melhor!!! Somos do tamanho de nossos sonhos.”
Maravilhoso esse texto. Muitos beijos em sua mãe, pela mãe maravilhosa que ela é. Como disse o Mestre Jesus, “reconhece-se a árvore pelos seus frutos”.
Adri: este texto é maravilhoso, é belíssimo, é sublime, como as mães
o são. Parabéns para a tua mãe, que deve ser excelente. Aproveito a oportunidade para dar os parabéns às avós, bisavós, e tb. titias. Bjos.
O texto é lindo e comovente. É muito bom poder participar do crescimento de um ser e receber o título de “Doutora Assistente”.
Beijos